Sessão dedicada à promoção de artistas brasileiros independentes.
Sessão dedicada à promoção de artistas brasileiros independentes.
-Lygia Pape
Lucas Pinheiro (1992) é o paulista, que diverge da aceleração cotidiana dos demais naturais do estado de São Paulo. O que o torna um atleta impressionante do nado contra a maré não é, apenas, o fato de ser um dos artistas de raciocínio veloz que habitam o planeta, mas, também, o sim que ele deu a arte de atuar. Desde sua infância, trouxe consigo o histórico da vontade de ser o que quisesse por meio da interpretação. A nossa futura Nazaré Tedesco está aqui, diante dos nossos olhos, desabrochando como um lindo cacho de guaranás. Lucas é o acontecimento na comunidade que transborda a fertilidade brasileira na reprodução de artistas.
Filmes favoritos: Mamma Mia: Here We Go Again, The Greatest Showman
Curiosidade: Ele é o Power Ranger Preto.
Lucas e eu temos uma amizade de longa data. Nos conhecemos no auge das start ups de São Paulo. Moda essa que veio logo após o auge e decadência das paleterias mexicanas. Trabalhávamos juntos para um aplicativo. E desde o primeiro momento de contato com ele, era inevitável não gargalhar, Lucas sempre foi uma metralhadora de tiradas espetaculares. Eu tinha comigo a teoria de que se a pessoa fosse apática à presença dele, o indício dela ser psicopata era alto. Quando Lucas compartilhou comigo sua trajetória como estudante de teatro eu surtei. Surtei de felicidade, porque o talento dele precisa ser apreciado por mais gente. E, enquanto a agenda deste querido não lota de compromissos, ensaios e gravações, eu aproveitei para conversar, mesmo que via WhatsApp, sobre sua carreira como ator, que você lê a seguir:
Anny B.: Olá dono dos tablados de São Paulo! (Descobri recentemente que tablado não é um termo do ramo de atores, mas sim uma escola de teatro super respeitada no Rio de Janeiro hehe vivendo e aprendendo...) Você prefere ser chamado de artista, ator, Fernanda Montenegro ou Lucas?
Lucas Pinheiro: Oi minha amiga! Hahahahaha! Pode ser só Lucas mesmo, aí no futuro a gente muda para "o ganhador do Oscar".
Anny B.: Se o Silvio Santos te chamasse para ganhar o troféu imprensa e você tivesse um contrato exclusivo com uma novela da Record, você fugiria do Edy Macedo pulando um muro ou... Tô brincando!! Vou falar sério... Por que você sempre foi maravilhoso e quando você me contou que estava fazendo teatro eu fiquei tão feliz!! Feliz que você ia compartilhar seu time de comédia com o mundo! Como foi dar o primeiro passo para fazer teatro? E por que teatro?
Lucas Pinheiro: Eu ia para o Silvio Santos nem que fosse pra fazer o remake de Alegrifes e Rabujos, na Record tem sarne haha! Fazer teatro sempre foi um desejo muito grande na minha vida, desde criança eu falava para minha mãe que queria ser um power ranger rs, e conforme fui crescendo entendi como eram "formados" os power rangers, eram atores. Na adolescência eu ficava fascinado com os filmes e peças de teatro, e sabia que dentro da profissão eu poderia ser o que quisesse. Fiz teatro na escola, mas parei porque na época, além das pessoas falarem que ator era profissão de vagabundo e que não dava dinheiro, eu sofria uma certa retaliação (bullying) de outro aluno que era o supervisor da turma de teatro. Então desisti temporariamente do meu sonho de ator e comecei a trabalhar para ajudar em casa. Trabalhei como monitor de buffet infantil até conseguir um emprego em cartório por indicação de uma tia, onde consegui uma bolsa na faculdade e me formei em Direito (eu sei, não parece rs), daí pra frente mudei de área e comecei a trabalhar com atendimento ao cliente até chegar em prevenção a lavagem de dinheiro e prevenção à fraudes, onde eu conseguiria usar tudo o que aprendi durante os 5 anos na faculdade. Nesse tempo todo, a vontade de voltar às aulas de teatro não morreu um segundo sequer, mas eu tinha na cabeça que precisava de um trabalho para me manter e ajudar em casa e que o teatro entraria como um hobby. Já adulto e formado, voltei ao teatro onde tenho sido muito feliz, principalmente porque além de ser um sonho meu de criança, era um sonho também da minha mãe, ela sempre quis fazer balé e por não ter tido oportunidade na vida, sempre me incentivou a não desistir. Quando contei à ela que voltaria ao teatro ela ficou muito feliz de ver que meu sonho não tinha morrido. Hoje eu continuo na arte por mim e por ela.
Anny B.: (O bullying é uma violência, que minha geração, a de Lucas e anteriores, sofriam de modo velado, digo isso, não porque hoje o bullying não exista, porém hoje ele é discutido e tudo que é desgastado em discussões diversas passa por um processo de conscientização. Ainda assim, é um gatilho para muitas pessoas, principalmente as fora dos padrões esperados, então ler que Lucas teve a sua atividade favorita da infância deixada de escanteio por conta da violência que ele sofria ali, é devastador. Falar de respeito ao próximo não é só um conceito de comunidade, bolhas em que os membros compartilham dos mesmos ideais, respeito é o mínimo que um indivíduo precisa ter para com o outro, e vê-lo resgatando o que sempre amou fazer é encorajador e estimulante.) Quando você comenta brevemente do seu percurso profissional até chegar ao teatro novamente, só prova que a nossa arte brasileira elitista, cheia de muros econômicos que segregam artistas de classes média e baixa fazem com que a caminhada desses seja a passos de tartaruga, é compreensível que a gente cresça com a percepção de que tem que ter uma formação acadêmica de uma profissão "séria", mas se você pudesse... Voltaria no tempo para se graduar em artes cênicas, por exemplo?
Lucas Pinheiro: Eu não sei se tivesse feito tudo diferente eu conseguiria me dedicar com mais tranquilidade financeira às artes. Mas uma coisa que com toda certeza eu faria seria ignorar os comentários e piadas na escola e teria continuado com o teatro lá, e possivelmente faria cursos livres fora da escola pois claramente me ajudaria a não "perder" tanto tempo como perdi por conta de comentários que retraíram meu sonho e que só consegui retomar agora na vida adulta.
Anny B.: Dizem que o sinal de sucesso é quando o artista tem haters. Então, o que você diria agora para seu primeiro hater da carreira?
Lucas Pinheiro: Para ser hater tem que consumir o trabalho do artista, não dá pra ser hater de graça. Seja meu hater sim, mas consuma a minha arte, me impulsione cada vez mais e aprenda a lidar com a minha imagem, ela vai aparecer bastante! 😁
Anny B.: (Hablou lindamente!!) Se isso não for classe, eu não sei então o que é. Você tem algum filme favorito? Se sim, qual?
Lucas Pinheiro: Esta pergunta não se faz hahaha eu não tenho UM filme preferido, mas se me perguntar quais os filmes que eu mais vi até hoje são Mamma Mia: Here We Go Again e The Greatest Showman (choro em ambos em todas as vezes que assisto).
Anny B.: Tem algum personagem literário, audiovisual ou de jogos que você gostaria de ter a chance de interpretar?
Lucas Pinheiro: Existem vários personagens, mas acho que pra fechar o ciclo do Lucas criança, quem sabe consigo participar de um novo reboot/filme dos Power Rangers? 😂
Anny B.: Ranger vermelho?
Lucas Pinheiro: Preto. Enquanto todo mundo brigava para ser o vermelho, eu escolhia o preto sempre. O preto me cai bem hahaha. Mas toparia fazer uma versão de Ranger Rosa também, ia ser diferente.
Anny B.: Vamos fazer uma petição agoraaaa!! Lucas Ranger Rosa!!! Por favor universo!!! Eu estou acompanhando seus stories no Instagram, fotografias de making of.... Você está em algum projeto atualmente?
Lucas Pinheiro: Eu estou ensaiando uma peça para apresentar na instituição onde me formo este ano. Chama "O Anel de Magalão" texto de Luis Alberto Abreu, onde interpreto 2 personagens, sendo um italiano e um português.
Anny B.: A peça é aberta ao público em geral? Se sim, os ingressos estão à venda? Pera!! Dois personagens??? Como você faz para decorar as falas???
Lucas Pinheiro: Não, essa peça é uma montagem de avaliação que será apresentada para a coordenação e direção da escola. No final do ano, teremos uma peça aberta ao público. Fazer dois personagens é trabalhoso, principalmente por serem 2 personagens totalmente diferentes (além do idioma); o italiano é um viúvo que tem um filho e ambos são apaixonados pela mãe e filha e sofrem pelo amor não correspondido delas. Já o português, é dono de um bar e atual marido do amor não correspondido do italiano que está sendo passado pra trás por seus dois funcionários e esposa. É uma comédia. No começo foi bem confuso, todavia depois que se entende os personagens e as suas narrativas, fica mais fácil diferenciar e decorar as falas e sotaques de cada um. Tem sido um aprendizado e tanto!
Anny B.: Uaaau.. Eu adorei o enredo!! Você arrasará, isso não tenho dúvidas! Qual conselho ou recomendação deixaria para as pessoas que gostariam de fazer teatro, mas ainda não se sentem confiantes pra seguir o que querem?
Lucas Pinheiro: O conselho é: vai de qualquer jeito, a confiança vem com o tempo, ainda assim nunca vai se sentir 100% pronto. Se organiza direitinho, leve o tempo que achar necessário, mas vá atrás do seu sonho de fazer teatro. Se for o caso, comece com cursos livres, é uma ótima alternativa e te ajuda a ter mais clareza se é realmente o que quer para vida. Viu que é isso? Força na peruca, e bora adiante!
Anny B.: Lucas, obrigada pela confiança de compartilhar neste meio sua nova etapa da vida, é sempre um prazer comemorar cada conquista sua.
Lucas Pinheiro: O prazer é todo meu.
Anny B.: (Esta despedida da entrevista nunca aconteceu, porque somos duas comadres tagarelas, mas para compreensão de entrevista, crio aqui a fictícia.) =)