Estética caótica e sustentável
Estética caótica e sustentável
Os desafios de um desenho realista, a profundidade de algo pincelado que se assemelha a uma fotografia eram motivações de um aprendizado técnico. Sabe quando você quer ultrapassar seus limites? Ou quer "maravilhar" os olhos das pessoas com algo feito, lentamente, que de tanto detalhe faz a pessoa acreditar que aquilo respira? Percebi na minha autodescoberta que o realismo que eu tentava atingir era mais sobre impressionar os outros, do que cativar. Eu cansei de uma superfície comum, lisa... Há beleza no lixo, no descartável. Aqui em Copenhague as caixas de correspondência são abarrotadas de jornais e revistas gratuitas de coisas que a maioria das pessoas não se interessa em receber. Simplesmente chegam, abarrotam, você abre a caixa, pega todo aquele amontoado impresso e descarta. É tanto papel que eu decidi ressignificar minha estética utilizando dele.
Estou há alguns dias me aventurando com a reciclagem de papéis esquecidos... Está sendo divertido. Hoje estou na etapa de finalização, estou conhecendo os novos materiais e testando a resistência e durabilidade.
É um aglomerado de informações numa superfície que sintetiza o caos e a oportunidade de se ter uma breve atenção diante de tanta coisa ao mesmo tempo.
Copenhagen, 28 de março de 2023.
Cansada, Cansada - Por Anny B.
Um dia de cada vez...
É o que me repetem as pílulas que engulo,
É o minuto lento de um dia escuro,
É a jornada constante que parece errante
Ao ponto de eu não acreditar num potencial de gente.
Um dia de cada vez!!!
Gritam as vozes ao pé do ouvido,
Que socam meus olhos entupidos
De uma tal lista de entretenimento
Onde o mais criativo fica rico.
Criativo ou Rabudo?
Um dia de vez.
Um dia vez.
Um dia.
É como minha ansiedade engole cada vírgula.
Eu sei que é um dia de cada vez,
Mas todos os dias a comida que eu cago
Dá-me a certeza que a temporalidade
É tão certa que a merda que eu jogo fora,
É a água de amanhã que mata a sede.
A minha.
Tão certa como um dia após o outro.
Preferiria ser agora, talvez.
Mas eu espero. Porque
Um dia de cada vez...
Copenhagen, 21 de março de 2023.
Ideia de autorretrato em mesa digital. Arquivo pessoal de Anny B.
Copenhagen, 14 de março de 2023
Consigo lembrar do peso das compras, típicas da volta do supermercado em uma segunda-feira, enquanto o inverno dinamarquês no seu auge, já ameaçava escurecer às 14hs. Não sei bem o que me inspirou, se foi um podcast de crimes reais ou o fato de carregar batatas, cenouras e cebolas. Não era irônico eu querer escrever algo novo diante de uma rotina tão antiga. Só sei que comecei, e luto diariamente para que meu cansaço só seja físico e que minha mente se mantenha astuta, pois preciso dela para alçar concluir mais um livro.
Rabisco em mesa digital. Arquivo pessoal de Anny B.
Copenhagen, 2022
"Ser adulto é entender que o que você pensa que você é, é um histórico do que disseram para você e não o que você realmente é de verdade."
"As pessoas loucas que te rodearam na infância, só eram crianças adultas tentando arcar com as consequências. Afinal de contas, ninguém está bem."
-Trechos reflexivos durante processo de cura comportamental
Copenhagen, setembro de 2021
Uma das sociedades mais felizes do mundo não sorriu pra mim.
Dezesseis horas separavam o calor do frio.
Seus casacos preto e cinza deixavam o entardecer precoce ainda mais sombrio.
Eram filhos herdeiros de uma ilha só deles que de tão perfeita e estável, os vi como um organismo.
Eu era o vírus, iam me pegar! Até que eu percebi que o organismo impunha suas vontades. Ou eu cedia ou eu saía.
Cedi, aceitei minha natureza alienígena. Eu era humana, mas não o suficiente para pertencer àquele pequeno planeta.
Título: Aliens, Acrílico sobre tela (2021). Original Anny B.
São Paulo, setembro de 2020
"A gente pode viver em sociedade agora e matar os outros mantendo eles vivos. Como se na verdade qualquer um fosse predador e a presa, numa caça à distância, onde com as minhas palavras eu posso ferir uma lebre a quilômetros de distância, sem me preocupar em levantar do sofá. Porque o que vai saciar a gente não é a comida, mas aquilo que a gente acredita ser justiça."
-Trecho retirado de rascunho das ideias iniciais que posteriormente viriam a se tornar o livro Reflexões para Alienígenas
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São Paulo, junho de 2020
A certeza de uma incompatibilidade com o mundo real aconteceu antes mesmo de compreender as barreiras invisíveis das classes sociais. Veio do olhar sútil e devorador de uma cabeça cheia de fios castanhos lisos, que ostentavam feição segregador. Meus olhos de criança fotografaram o seu rosto, guardei em uma gaveta do meu inconsciente com uma etiqueta organizadora: "A megera rica". - Eu só tinha uns 7 anos quando isso aconteceu. De lá pra cá cruzei discriminações diversas. Mas amadurecendo, eu percebi que quem mais me segregou era tão pobre quanto eu, que a única coisa que nos separavam era uma sacola da Zara.
Título: Mundo maluco, Biscuit sobre MDF (2020). Original Anny B.
São Paulo, 02 de abril de 2016
"Sofro de uma escravidão social absoluta. Sorriu, mas não sinto. Falo, mas não digo. Abraço, mas não afago. Escuto, mas não atento. Leio, mas não compreendo. Penso, logo esqueço. Perco, mas não me preocupo. Ando, mas não caminho. Durmo, mas não sonho. Acordo, mas não existo. Um coração pulsa, mas a alma não está viva."
>Trecho de texto pessoal de uma depressão, até então, ainda não diagnosticada.